terça-feira, 29 de setembro de 2009

Memórias do Ofício da Lã IV

O enraizamento da indústria em Alvoco da Serra e, sobretudo, em Loriga geraram alterações estruturais significativas a par do declínio da pastorícia e das alterações na produção agrícola.

É nesta perspectiva que "as "courelas” ou “belgas", os “cômoros” (vulgo combâros) sucessivos e salteados, que são hoje o Ex-Libris das paisagem da zona, foram outrora consequência directa da intensificação da cultura do milho, cujas origens não são ainda pacíficas...



Por outro lado, a industrialização, desde os finais do século dezoito (XVIII), e com maior ímpeto desde os meados do século XIX, progressivamente marginalizou um artesanato de âmbito familiar, para dar lugar a grandes construções, situadas bem perto das Ribeiras, com espaços circundantes vastos, possibilitando, não só o aproveitamento das águas, como a construção de largos estendais (Râmbolas), pincelando a paisagem dum tom fabril, que ao observador mais atento, não passará despercebido”.

In AMARO, ANTÓNIO LUÍS CARDOSO - Em demanda das terras da lã (Recensão crítica de "Os vales de Loriga e de Alvoco da Serra"), Coimbra, 1985

sábado, 26 de setembro de 2009

Memórias do Ofício da Lã III

"Com a primeira Grande Guerra, mesmo se de facto algumas fábricas paralisaram temporáriamente quando lhes foi impossível importar a matéria-prima, no conjunto, a actividade industrial sofreu novo impulso, pois os mercados metropolitanos abriram-se largamente à produção nacional. E, como consequência, utiliza-se de dia e de noite a água dos ribeiros para fazer mover as pesadas rodas."



"Em Loriga, a indústria tinha-se enraizado profundamente. Capitais oriundos do Brasil, e de parte dos filhos da primeira geração de industriais que emigraram, apoiaram-na nas épocas de crise. A guerra civil de Espanha criou no país vizinho um franco mercado à produção têxtil das fábricas portuguesas. Muitos cobertores e tecidos, passando facilmente a fronteira, trazem, pela sua venda, lucros sensíveis. Mas este período é de curta duração, e mais uma vez a uma época prometedora se sucedem anos difíceis."

In CAVACO, CARMINDA e MARQUES, ISABEL - Os vales de Loriga e de Alvoco na Serra da Estrela - Estudo de Geografia Humana, Finisterra, Revista Portuguesa de Geografia, Vol. I, Nº 2, Lisboa 1966


terça-feira, 22 de setembro de 2009

Memórias do Ofício da Lã II

Como legenda das fotos de hoje, recorro à transcrição de alguns excertos dum excelente estudo intitulado “Os Vales de Loriga e de Alvoco da Serra na Serra da Estrela – Estudo da Geografia humana”, o qual foi efectuado pelas professoras Carminda Cavaco e Isabel Marques. Este trabalho, publicado no longínquo ano de 1966, no Número 2 da Finisterra, Revista Portuguesa de Geografia, refere com pormenor a evolução e origem da indústria naquela zona serrana, apontando-a como polo de desenvolvimento da actividade industrial ligada aos lanifícios.

"Nos fins do século passado [século XIX], as pequenas empresas familiares de lanifícios estabelecidas em Loriga e em Alvoco da Serra fabricavam já grande quantidade de tecidos e cobertores, que nas feiras de Castelo Branco, Évora e Viseu encontravam os seus melhores compradores."


"Vulgarizam-se os teares mecânicos, levantam-se grandes construções onde se concentram todas as tarefas, até então dispersas por modestas palheiras das leiras vizinhas e muitas vezes arrendadas, alargam-se os estendedores pelas enconstas soalheiras e menos declivosas, marcando assim profundamente a estrutura da periferia destes núcleos serranos. Para nelas trabalhar recrutam-se uma vez mais os técnicos especializados da Covilhã, e os operários entre a gente local, que de recomendável possuía sobretudo o gosto e um certo saber tradicional da fiação da lã."

domingo, 20 de setembro de 2009

Memórias do Ofício da Lã

Em Setembro de 2008 tive oportunidade de visitar, na vila de Loriga, uma fábrica de lanifícios que deixou de produzir em finais do século passado. O objectivo era fotografar o estado de abandono ou deterioração das máquinas, bem como a disposição dos teares e alguns dos seus elementos que os caracterizam.

São algumas das imagens registadas que partilho a partir de hoje e até ao final de Setembro, as quais apresento a preto e branco porque traduzem melhor o momento da agonia desta actividade industrial, a nostalgia por um passado recente e a homenagem por aqueles que neste ofício ocuparam grande parte da sua vida.

Deixo um agradecimento ao Sr. António Conde que, pela sua disponibilidade, tornou possível esta reportagem fotográfica ao abrir-nos as portas para visitar um “museu vivo” da arte de trabalhar a lã.



Deixou-me impressionado aquilo que observei e registei: fios e peças de lã em posição e alinhamento tais que deixavam a sensação de que, uns momentos antes, tinha ocorrido uma falha de energia e os teares apenas se encontravam momentaneamente parados.

Mera sensação! A nua e pura realidade é que já há alguns anos que os teares se encontram adormecidos, desde o momento que a produção deixou de ser competitiva face à oferta e do surgimento de novos concorrentes estrangeiros que a globalização mal concebida veio promover. Aparecia então uma nova vaga de desemprego que incidiu sobre os operários da indústria textil e de lanifícios.

Findou o fervilhar da actividade produtiva da lã e as peças, máquinas e ferramentas ficaram inesperadamente moribundas. Restam-nos as memórias do ofício da lã...


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Gira sem Sol

Mais um trabalho indoor utilizando como alvo um objecto decorativo enquadrado em cortinados transparentes e aproveitando a luz artificial vinda do exterior. o tempo de exposição foi de 15 segundos.


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Me and light

Resultado de algumas experiências "caseiras" em estúdio improvisado. Um cortinado de cor alaranjada entre a câmara e as fontes de luz. As duas lanternas de cores diferentes apontaram para o cortinado e "escreveram" durante 63 segundos.



Aproveito para informar que, conforme anunciado em Julho, daqui a uns dias iniciarei a apresentação de "set" B&W com o tema "Memórias do Ofício da Lã".

sábado, 5 de setembro de 2009

Globo azul

Globo terrestre fotografado com utilização da técnica de deslocação do anel do zoom duma objectiva 18-135 mm para gerar efeito de movimento.



terça-feira, 1 de setembro de 2009

Nas páginas da revista...

Já saiu há uns dias a edição de Setembro da revista O Mundo da Fotografia Digital. Especial Paisagens é o tema de capa, desenvolvido no seu interior com interessantes artigos para apreender e apurar técnicas nesta categoria de fotografia. Os portfólios de alguns autores também são de contemplar para aprender...


Na secção "Olhares" da revista surge um novo trabalho meu intitulado de "Fragmentos de luz".