segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Memórias do Ofício da Lã - Epílogo

Tenho uma vaga memória de, com os meus 8 ou 9 anos de idade, levar o almoço ao meu pai, que era operário numa fábrica de lanifícios.

Entrava pela fábrica dentro e percorria um corredor central donde observada os teares alinhados do lado esquerdo e direito. Apesar de ruidoso, o seu som era cadente e compassado como uma orquestra afinada. A pouca riqueza das notas condizia com as tarefas monótonas dos operários. Sentia e presenciava um espaço cheio de vida e labor: as correias das máquinas que giravam, os teares semi-mecânicos que rendilhavam a lã, os homens que se agitavam nos teares de um lado para o outro, puxando ou ligando fios, tecendo a lã. Era uma azáfama e estafa cheias de sensações melódicas e alegres.


Em jeito de conclusão da apresentação deste "set" sobre as Memórias do Ofício da Lã, é fácil adivinhar que nada é como era antes e os retrocessos, se alguma vez ocorrerem, nunca serão tais que farão repetir os momentos anteriores. Por isso, e no que respeita às fábricas de lanifícios e à arte de trabalhar a lã, não é retrogado mostrar orgulho por um passado que deu vida e pujança a uma terra e à sua população. Como tal, a continuidade desse espírito e a forma de perpetuar essa façanha do passado é preservar o mais possível e sem demoras alguns elementos residuais daquela arte. Enquanto é possível...

Um museu poderia ser a forma de representar esse orgulho e homenagear um pioneirismo de séculos anteriores assim como de poder servir de alento e impulso para a revitalização duma zona serrana que tendo prosperado graças à transformação da lã e ao aproveitamento de riquezas naturais circundantes, conhece bem o fenómeno da desertificação e a incerteza do futuro.

1 comentário:

  1. Excelente retrato sobre a realidade dos lanifícios de loriga. Estas memórias estão na iminência de se perderem definitivamente.

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